top of page

Dados: In "Do Campo ao Garfo" (2012)

Iva Pires, professora da Universidade Nova de Lisboa, faz parte do grupo de pessoas que integraram o projeto.

Uma das realidades, apresentada pela investigadora, é a das pessoas que vivem sozinhas e que encontram muitas dificuldades quando vão ao supermecado, visto que as embalagens são de tamanho familiar, o que leva a um maior desperdício.        

E estudos em Portugal?

O estudo "Do Campo ao Garfo", de 2012, é o último estudo feito em Portugal acerca do desperdício alimentar.

O estudo faz parte do projecto PERDA., financiado pelo Prémio Ideias Verdes, da Fundação Luso e do Jornal Expresso, e pela fundação Calouste Gulbenkian.

Entre várias conclusões, o estudo dividiu as perdas em quatro setores, sendo o produtor aquele que mais desperdiça.

"O número de famílias com uma pessoa está a aumentar e os supermercados e a distribuição ainda não estão preparados para esta realidade."

- Iva Pires, investigadora da Universidade Nova de Lisboa

A investigadora diz que Portugal está "atrasado" e necessita, numa primeira fase, de estudos para conhecer a realidade do desperdício em Portugal, e numa segunda fase, uma campanha para combater o desperdício alimentar.

Tentamos contactar, ainda que sem sucesso, mais de 20 deputados para perceber porque é que no ano nacional do combate ao desperdício alimentar, o Governo não tem nada planeado.

 NO CAMPO 

Semear para deitar fora

Agricultor desde sempre, Paulo Antunes, apresenta, com tristeza, um retrato daquela que é a profissão mais afetada pelo desperdício alimentar. 

É no campo onde se desperdiçam mais alimentos. Culturas deixadas no campo, máquinas na colheita que estragam os alimentos e até mesmo ataques de pragas e outros animais. 

"Nós aqui, só se via gado sem destino,

agora é tudo ervas."

Recorda com nostalgia os tempos em que ia com a sua família, com "o carro cheio" para a feira e conseguia vender tudo. 

O contacto com os supermercados da região chegou a acontecer, mas ficou por terra quando Paulo se apercebeu que os espargos, que lhe compravam a três euros o quilo, eram vendidos a 15.

A agricultura já deixou de dar lucro a Paulo há muito tempo.

Associado, atualmente, à iniciativa Prove, o agricultor, natural de Amares

chegou a ter as estufas paradas, encontrando sustento na criação de gado

e vinhas.

 NO SUPERMERCADO 

No ano nacional do combate ao despedício alimentar, são vários os países europeus que demonstram iniciativa com a causa, ao aprovar leis e projetos que proibem que os supermercados deitem comida fora.

A França fez história ao ser o primeiro país a aprovar uma lei, que multa os supermercados que não doam os excedentes ainda bons para consumo. A Itália adaptou a ideia, ao aprovar uma medida que recompensa os supermercados que doem comida.

Iva Pires, investigadora da Universidade Nova de Lisboa, admite que o problema dos supermercados portugueses doarem, passa pelo medo de dar alimentos que não estejam em boas condições e que depois tragam problemas de saúde às famílias.

Alexandrina Maciel, gerente do "Meu Super", há dois anos, luta para evitar o desperdício na sua loja.

Do outro lado do balcão

No supermercado da freguesia de Gualtar, por norma não existe desperdício. Quando os produtos ainda estão em condições ficam em promoção, quando já estão fora de validade são retirados de loja.

 

Se forem produtos que, mesmo fora de validade, estejam bons para consumo, Alexandrina leva para casa ou dá aos seus funcionários.

“Normalmente conseguimos escoar (os produtos). Há pessoas que têm tendência a comprar só o que está em promoção quando está no fim da validade”, contou a gerente do "Meu Super", de Gualtar.

“Existem várias condições por parte do continente, no que toca a estes produtos, alguns podem ser consumidos até ao fim de validade, outros antes de.”

A iniciativa foi crescendo e atualmente o supermercado doa, não só o pão, mas também, outros alimentos que estão a ficar fora do prazo, “às vezes arroz, comida de gato, bolachas, iogurtes, etc.”.

Dona Judite deixou de ter tempo para sair de casa de manhã. Todos os dias, inclusive fins-de-semana, a distribuição acontece. “Costumava ir duas vezes por semana encontrar-me com as minhas amigas mas agora não posso. Mas sinto-me muito realizada a fazer este trabalho”.

- Paulo Antunes, agricultor

- Alexandrina Maciel, gerente "Meu Super"

Ajudar com as próprias mãos

Dª Judite é um exemplo de iniciativa própria, no combate ao desperdício alimentar nos supermercados.

 

Quando se apercebeu que o Continente da Trofa deitava o excedente de pão, no final do dia, para o lixo ou para ser transformado em pão ralado, decidiu agir. Tentou ser ela a recolher o pão, mas só o conseguiu com a ajuda da Cruz Vermelha, que ,em condição de IPSS, poderia passar o recibo da dádiva, “legalizando a situação”.

Dona Judite tenta doar os alimentos, preferencialmente, aos mais carenciados da zona. Quando, mesmo assim, sobram alimentos, doa à vizinhança. “As pessoas já sabem que todos os dias de manhã podem ir lá a casa. Já tenho aquelas pessoas que vão lá, religiosamente, todos os dias buscar o pão”. 

“Quando não tenho a quem dar, dou a quem aproveita, porque é essa a intenção, dar a quem não quer deitar fora”.

- Judite Ribeiro, voluntária

É na hora de almoço que se verifica mais desperdício já que os consumidores têm menos tempo nesta altura, enquanto que ao jantar têm mais tempo para fazer uma refeição mais descontraída e assim desperdiçam menos.

Os mais velhos são os que desperdiçam mais em relação aos jovens.

Por sua vez, é o sexo masculino que desperdiça mais.

Quantas vezes já foi ao restaurante jantar e metade da travessa foi para trás? Dessas vezes, quantas é que pediu para levar os restos para casa?

É no restaurante Cufra, na avenida da Boavista, no Porto, que encontramos respostas, junto de Cátia Sá, engenheira alimentar.

A tese de mestrado, que realizou em 2014, acerca do desperdício alimentar, de dois restaurantes do Porto, indica que a principal razão apontada pelos consumidores, para o desperdício, foi a quantidade excessiva de alimentos.

Cátia Sá defende que "o desperdício alimentar é o reflexo das falhas que acontecem nas empresas, quando, por exemplo, elaboram as ementas ou planeiam o número de refeições".

 NO RESTAURANTE 

 EM CASA 

As sobras no prato, no final das refeições, a passagem do prazo de validade, e o mau armazenamento, são as principais causas para o desperdício em casa.

O consumidor português desperdiça 97 kg de comida por ano, segundo dados do estudo "Do Campo ao Garfo".

O estudo aponta ainda, a falta de planeamento das compras, a compra em excesso e de alimentos perecíveis, a preparação de muita comida e a não reutilização das sobras, como outras causas para o desperdício nas famílias. 

A tradição do prato cheio

Os funcionários do restaurante têm indicações para sensibilizar os clientes a levar os restos para casa, contudo esta questão ainda é sensível.

“É uma questão sensível, porque mexe muito com a mentalidade e a maneira de estar das pessoas. Tem que ser um processo lento, para incutir às pessoas que é importante reduzir o desperdício"

- Cátia Sá, engenheira alimentar

Doar: o dever dos supermercados

A engenheira alimentar concluíu que se desperdiça mais quando se come acompanhado, já que as pessoas distraem-se com a conversa ou evitam comer tanto "por vergonha".

Desperdício por impulso

Tentamos contactar, ainda que sem sucesso, os gabinetes de comunicação do Pingo Doce, Continente, Lidl e Intermarché.

Num breve questionário de rua, foi fácil de perceber, que nenhum dos entrevistados sabia que este é o ano nacional do combate ao desperdício alimentar.

A parceria com o projecto Prove trouxe ligeiras melhorias no rendimento do agricultor, no entanto não hesita em dizer que "se pudesse ia trabalhar para o estrangeiro".

INDÚSTRIA

CONSUMIDOR

77 mil toneladas

298 mil toneladas

324 mil toneladas

332 mil toneladas

PRODUÇÃO

DISTRIBUIÇÃO

Em que setor se desperdiça mais?

- Iva Pires: "A Distribuição empurra para o consumidor os problemas de excedentes de stock

Dados: In "Avaliação do desperdício alimentar em dois restaurantes na cidade do Porto" (2014)

Há desperdício alimentar na sua casa?

- Iva Pires: "A resolução foi aprovada, mas eles (governo) não vão fazer nada.

(clique para ver em ecrã completo)

Paulo Antunes: "Se isto continua assim, a solução para os agricultores pequenos e médios é irem embora".

Paulo Antunes: “A gente levava o carro carregado e vendia-se. Agora torna-se a meter no carro e a vir embora".

- Cátia Sá: "Há aquele conceito do português, que o prato tem de tar cheio".

bottom of page