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Um milhão de toneladas. É este o valor de alimentos que Portugal vai deitar ao lixo, no ano nacional do combate ao desperdício alimentar.

Zero. São o número de iniciativas, por parte do governo, para promover a iniciativa, que foi aprovada pela Assembleia da República.

2012. É o ano do último estudo, em Portugal, acerca do desperdício alimentar.

Com tantos números resta a questão: Como é que Portugal vai conseguir cumprir quotas europeias, para a diminuição do desperdício, se já há 4 anos que não há nenhum estudo que indique quanto se desperdiça?

No ano nacional do combate ao desperdício alimentar, aprovado pela Assembleia da República, Portugal vai desperdiçar um milhão de toneladas de alimentos.  

Segundo o estudo "Do Campo ao Garfo", de 2012, um habitante português desperdiça em média 97kg, enquanto que, o habitante europeu desperdiça 92kg, concluíu um estudo da EU Fusions, de 2016. 

O estudo, de quatro anos, financiado pela União Europeia, admite ter tido vários problemas em encontrar dados, acerca do desperdício alimentar nos 28 países da UE, os dados que apresenta, são estimativas do desperdício a nível europeu.

Os dados indicam que, a nível europeu, é em casa onde há mais desperdício. Em Portugal, segundo o estudo "Do Campo ao Garfo", existe também esta realidade, sendo que em casa se desperdiçam 324 mil toneladas de alimentos.

Dados EU Fusions 2016

Restos de uns, refeições de outros

A manhã da loja social de paranhos está calma. À medida que Helena vai enchendo os tupperwares dos beneficiários, que vão chegando um a um, a Catarina Dias, responsável pelo movimento Zero Desperdício, na junta de freguesia de Paranhos, prepara-se para a recolha dos excedentes da cantina do hospital de São João.

O percurso é rápido. Mal chegam, as caixas já estão prontas para transporte. A curta distância permite que a comida seja transportada apenas em caixas isotérmicas sem que sejam necessárias carrinhas frigoríficas.

"Nós não causamos qualquer entropia ao funcionamento normal do serviço.  A única diferença é que, invés de despejarem os alimentos no caixote do lixo, colocam-nos nas caixas isotérmicas."

- Catarina Dias, responsável pelo movimento Zero Desperdício em Paranhos

Maria vai buscar refeições à loja social, três vezes por semana. Esta ajuda é fundamental, há poucos meses, para o bem estar da sua família.

Funcionária na cantina de uma escola pública, Maria lamenta a ironia de ser ela a deitar a comida fora.

"Sou eu que deito a comida ao lixo.

​Não adianta. Nem para animais podemos trazer"

Maria conta, com revolta, a história de uma colega de trabalho que foi demitida por dar de comer a uma criança "sem posses". 

A comida que sobra na escola, onde Maria trabalha, é muita, mas as explicações são poucas.

A escola não dá qualquer  justificação a Maria ou aos outros funcionários, do porquê de todos os dias serem obrigados a deitar comida fora, que ainda não tinha sido servida e estava em "perfeitas condições para consumo".

A solução passa pelo Ministério da Educação

Alberto Machado, presidente da Junta de Freguesia de Paranhos, conta que tem procurado, com muita dificuldade, parceria com as escolas da região.

O problema, segundo o presidente da Junta de Freguesia de Paranhos,

depende do Ministério da Educação, já que é a entidade máxima, que pode dar indicações junto dos agrupamentos de escola, para que as refeições que sobram sejam reutilizadas.

- Maria, beneficiária da Loja Social de Paranhos

A dor de deitar fora aquilo que mais se precisa

A viagem faz parte da rotina diária de Catarina. No entanto, como a  iniciativa é de cariz voluntário, não constitui um serviço e, por isso não tem obrigatoriedade de todos os dias ter comida para os beneficiários.

 

A questão coloca-se porque o movimento trabalha com excedentes e por vezes a comida não sobra nas cantinas. Nestas alturas, a loja social complementa com bens que tem em armazém, de enlatados e alimentos não perecíveis, que são angariados em campanhas ou dádivas espontâneas.

"Se já há um conjunto bastante alargado de entidades públicas que aderiram a este projeto, o Ministério da Educação, através da sua rede de escolas, que é enorme, podia também dar o seu contributo"

- Alberto Machado, presidente da Junta de Freguesia de Paranhos

- Catarina Dias, responsável pelo movimento Zero Desperdício em Paranhos, no momento de recolha no Hospital de São João

- Alberto Machado: "É um bom ano para que o Ministério da Educação assuma o seu papel como entidade pública"

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